O espetáculo televisivo da intolerância: a mídia a serviço da fé

17/11/2008 14:30

Carla Osório

A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é harmonia na diferença. Declaração dos Princípios sobre a Tolerância (UNESCO, 1995) 

Na disputa por mais fiéis os meios de comunicação de massa se tornaram um poderoso aliado de evangelização das igrejas neopentecostais. As chamadas “igrejas eletrônicas”, que surgiram nos Estados Unidos e se difundiram no Brasil desde o início da década 80, hoje realizam transmissões ao vivo de cultos religiosos e programas de evangelização.

Numa demonstração do seu poder econômico e político a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) assumiu a Rede Record de televisão em 1989, por 45 milhões de dólares. A TV, que disputa espaço na audiência com outras grandes emissoras do país, como a Rede Globo e o SBT, exibe diariamente além dos telejornais, teledramaturgias e programas infantis, uma programação reservada à Igreja Universal do Reino de Deus, que inicia a partir das 23 horas e segue por toda a madrugada.

Os programas religiosos da TV Record não se contentam em pregar a doutrina evangélica, como também promovem cerimônias de descarrego de fiéis, numa alusão clara aos cultos afro-brasileiros e aos seus praticantes.

Diante da diversidade dos ataques as religiões afro-brasileiras, destacamos as sessões de exorcismo ao demônio. É importante lembrar que, a associação do diabo aos deuses das religiões de matriz africana é anterior as sessões de descarrego promovidas pela Igreja Universal do Reino de Deus. A ideologia cristã vem associando o diabo aos deuses dos chamados cultos pagãos, desde a Idade Média.

Sendo assim, a TV Record exibe em programas diários ex-mães-de-encosto a serviço da verdadeira fé, numa alusão as mães-de-santo, cargo honorífico dos terreiros de candomblé, exorcismo de pessoas incorporadas por demônios, que são associados aos deuses das religiões de matriz africana, como também depoimentos de pessoas que deixaram as religiões de matriz africana (trevas) para integrarem a Igreja Universal do Reino de Deus (luz).

As imagens da intolerância religiosa, exibidas para todo o Brasil pela TV Record, em telecultos que se apropriam na realidade dos elementos rituais dos cultos de matriz africana, merecem um estudo mais aprofundado. Afinal, estamos tratando da televisão, um importante meio de comunicação de massa, na produção e difusão cultural na pós-modernidade, que possui um forte potencial multiplicador dessa intolerância.

Quando o culto sai dos templos e ganha as telas de TV entra em cena a cultura de massa e o culto religioso se traduz em produto midiático. O espetáculo religioso toma o lugar dos antigos ritos, os sacerdotes se transformam em estrelas de televisão, um jogo de cena, uma estratégia mercadológica, em busca de espectadores fiéis.

Em 2004, em São Paulo , ocorre uma reação da sociedade civil organizada contra a programação religiosa da TV Record e suas afiliadas. Uma Ação Civil Pública apresentada pelo Ministério Público Federal e por duas organizações não-governamentais, contra a Rede Record e a Rede Mulher. Segundo a ação, ambas emissoras exibem programas da IURD, com forte teor ofensivo às religiões de matriz africana. A Ação Civil Pública se baseia na Constituição Brasileira (1988) e na Lei de Imprensa (1967), e pedem a justiça um direito de resposta as duas emissoras de televisão.

Na Bahia, um caso flagrante de intolerância se tornou público através da imprensa (A TARDE, 20/03/2004). Um episódio envolvendo a mãe-de-santo Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda. A sacerdotisa e seu terreiro foram alvos de perseguição de membros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Os familiares de Mãe Gilda moveram uma ação contra IURD no Tribunal de Justiça da Bahia, pedindo uma indenização. A acusação era que o jornal Folha Universal, de propriedade da IURD, teria publicado uma foto da mãe-de-santo, extraída de uma reportagem da Revista Veja. Na foto Mãe Gilda aparece com uma tarja preta nos olhos seguida de uma legenda “macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”.

É importante destacar a capacidade da mídia na amplificação dos fatos. Nesse caso, o jornal Folha Universal foi utilizado pela IURD para amplificar a ofensa à Mãe Gilda e ao povo de santo. Segundo depoimentos de familiares, devido aos constantes ataques ao seu terreiro, a partir da publicação da foto, a mãe-de-santo entrou em depressão e morreu vítima de enfarto, em 2000. A data de sua morte, 21 de janeiro, foi transformada pela Câmara Municipal de Salvador em Dia contra a Intolerância Religiosa.

Apesar de as garantias legais previstas na Constituição Brasileira e nos tratados internacionais, da organização da sociedade civil e das pesquisas acadêmicas, a intolerância religiosa historicamente se apresenta como uma erva daninha difícil de exterminar. Mas quando essa mensagem de intolerância vai parar nos meios de comunicação de massa, como por exemplo, a televisão, que no Brasil é fruto de uma concessão pública, quase sempre nas mãos do capital privado, de quem será a responsabilidade? Qual será o limite entre a liberdade de imprensa e o respeito à liberdade de crença? Qual é o papel do Estado nessa discussão? E qual será o papel dos meios de comunicação?

Numa sociedade midiatizada, onde os meios de comunicação de massa alcançaram um status de esfera pública, torna esse tema complexo tanto para as Ciências Jurídicas, como para as Ciências Sociais aplicadas, onde estão inseridos os estudos de comunicação social.

Segundo Muniz Sodré (1989), o Brasil apesar de ser um exemplo da diversidade cultural, esta heterogeneidade é negada pela cultura tecnologizada (urbano-industrial), cujo símbolo vem a ser a televisão. Não se trata apenas de uma invisibilidade de grupos étnicos e culturais na programação televisiva, mas de uma apropriação das culturas tradicionais pela cultura midiática, que transforma tudo o que toca em espetáculo televisivo.

O sistema televisivo se investe, como qualquer outro setor acionado pelo avanço tecnológico, de caráter monopolístico, com suas inevitáveis conseqüências: escala de produção elevada e, na luta pelo domínio do mercado cultural, destruição ou assimilação das culturas concorrenciais. Estas culturas diferenciadas, implicando freqüentemente em formas alternativas de comunicação (comunicação interpessoal e oral via de regra) são incompatíveis com o código implícito do médium (SODRÉ, 1989, p.125).

Ao contrário dos códigos de comunicação televisivos, as culturas tradicionais ou as culturas de Arkhé, como na cultura nagô[1], a comunicação se dá através da troca, já que a palavra pronunciada tem poder de ação. As trocas estão baseadas nas relações interpessoais, a presença real do grupo é necessária para que tudo ocorra bem durante o ritual. O corpo é expressão do divino.

Duas pessoas, ao menos, são indispensáveis para que haja a transmissão iniciática. O asé e o conhecimento passam diretamente de um ser para o outro, não por explicação ou raciocínio lógico, num nível consciente e intelectual, mas pela transferência de um complexo código de símbolos em que a relação dinâmica constitui o mecanismo mais importante. A transmissão efetua-se através de gestos, palavras proferidas acompanhadas de movimento corporal, com a respiração e o hálito que dão vida à matéria inerte e atingem planos mais profundos da personalidade (SANTOS, 1998, p.47).

Essa é uma diferença entre o espetáculo televisivo e o ritual, em que o primeiro não requer a participação e nem a troca com o telespectador, a comunicação se dá de forma unilateral através do aparato tecnológico. Nesse sentido, há o esvaziamento do sagrado para as religiões de matriz africana, onde a magia não poderia circular no mundo virtual, via satélite.

Nos programas da Universal exibidos pela Rede Record é comum vermos pastores colocando copos de água sobre a mesa, e pedindo ao telespectador que faça o mesmo em casa, pois ao final do programa, ele vai abençoar a água. Este é um exemplo claro da apropriação da cultura popular, das benzedeiras, por exemplo, que rezam com copo d'água, como também do deslocamento do ritual para o espaço e tempo televisivos.

Aqui a televisão invade o terreno do sagrado. No encerramento do programa é comum o pastor repetir a seguinte frase “Neste instante ao beber desta água abençoada você estará curado”. Sobre a questão deste “instante mágico” transportado para videoteipe, o pesquisador Alberto Klein (2004, p. 149), pergunta:

Que instante afinal? Da perspectiva de quem? Do pastor, no momento da gravação, ou do telespectador no momento da recepção? Trata-se de mais uma perda do aqui agora do fenômeno religioso. É possível que as forças do mal não tenham caído por terra por justamente não reconhecerem tal instante. Em que momento o copo d'água foi abençoado, se ainda considerarmos a possibilidade de uma transmissão miraculosa de poder através da televisão? Já vimos tudo isso com Uri Gheller realizando prodígios como fazer relógios quebrados funcionarem através de mensagens enviadas pela TV. É justamente essa plasticidade temporal do videoteipe que condiciona uma nova dimensão religiosa e nos propõe questionamentos disparatados. Plasticidade ou suspensão do tempo?

Segundo Martin-Barbero (2003), a televisão, pensada a partir do paradigma cultural, como uma expressão da cultura de massa impregnada pela cultura popular, cumpre o papel de acionar esses conteúdos que compõem uma memória da cultura matricial.

O que ativa essa memória não é da ordem dos conteúdos, nem sequer dos códigos, é da ordem das matrizes culturais. Daí os limites de uma semiótica ancorada na sincronia quando se aborda a questão do tempo e seus descompassos, os profundos anacronismos de que está feita a modernidade cultural. Mas também de uma antropologia que ao pensar os nexos dissolve os conflitos, congelando o movimento que dá vida as matrizes. Porque dizer matriz não é evocar o arcaico, e sim explicar o que porta o hoje, o residual [...] Veios de entrada para aquelas outras matrizes dominadas, porém ativas, acham-se no imaginário barroco e no dramatismo religioso, na narrativa oral, no melodrama e na comédia (MARTIN-BARBERO, 2003, p.323-324).

Nesse sentido, poderíamos pensar os programas televisivos da IURD, ainda sobre o ponto de vista estético, através do apelo grotesco que marca boa parte dos programas de televisão. Segundo Muniz Sodré e Raquel Paiva (2002, p. 116), estes programas seguem uma fórmula.

A fórmula – desfile de conflitos familiares, brigas de vizinhos, confissões de pequenos criminosos e viciados, geralmente alvos de duras diatribes morais do apresentador, aberrações diversas – seria retomada com sucesso na segunda metade dos anos noventa por programas como Ratinho e Leão.

No entanto, o riso espontâneo, um traço característico do grotesco, diante do cômico, do diferente ou do estranho, presentes nas manifestações culturais populares, sede o seu lugar para o riso sarcástico e cruel diante das imagens de TV.

E essa idéia na TV aberta, privilegia fortemente a ótica do grotesco. Primeiro que suscita o riso cruel, que parece assumir contemporaneamente foros de liberdade de pensamento. A hilaridade sempre foi um vitorioso recurso universal da mídia, mas agora se impõe com um novo estilo, em que a crueldade – entendida ora como gozo com o sofrimento do outro, ora como nenhuma contemplação ética com o tema em pauta – é o traço principal (SODRÉ; PAIVA, 2002, p.132).

Analisando um dos episódios do programa Fala que Eu Te Escuto, podemos refletir o discurso de intolerância dos programas da IURD na TV Record, que extrapolam o conceito de grotesco na mídia. O programa exibido pela TV Record de São Paulo, na madrugada de domingo de 28 de janeiro de 2007, discutia o caso da atriz Susana Vieira, cujo marido foi preso após agredir uma garota de programa e depredar o motel. O bispo-apresentador, Clodomir Santos, convocou os telespectadores a participarem do programa pelo telefone, lançando a seguinte questão: a macumba é a responsável pela crise no casamento da atriz da Rede Globo?

Numa ligação feita por uma mulher, identificada como uma professora de São Paulo, o bispo Clodomir Santos foi acusado de promover discriminação religiosa na TV, ao se referir sobre os rituais do candomblé. Segundo a matéria de Sérgio Ripardo, publicada pela Folha Online, em 28/01/2007, ao atender a ligação, o bispo aparentou “surpresa” com os questionamentos feitos pela professora, que se disse uma estudiosa do tema, e se sentiu “ofendida” com a forma “negativa”, com a qual a Igreja Universal do Reino de Deus descrevia os rituais afro.

A telespectadora sugeriu que a Record parasse de depreciar outras religiões, pois uma emissora de TV é uma concessão pública. O bispo Clodomir respondeu que seu programa não censura temas apenas aborda assuntos da atualidade, como o caso da prisão do marido da atriz. Ele também citou o direito constitucional de discutir assuntos ligados a outras religiões, como qualquer outro canal [...] Ele disse também que a Igreja Universal não discrimina negros, como se acusa, pois o contingente de fiéis afro descendentes é relevante (RIPARDO, 2007).

Esse mesmo programa mereceu uma crítica publicada em maio de 2006, no mesmo veículo, onde o jornalista Sérgio Ripardo faz a seguinte análise:

Em uma avaliação rápida e preconceituosa, 'Fala que Eu Te Escuto' parece um programa tosco, trash, risível, voltado para pessoas desesperadas, de baixa renda, com suas promessas de resolver todos os problemas – do desemprego à impotência sexual. Não é bem assim. A seu modo e ao público a que se destina, há uma dose de profissionalismo engajado nos planos de poder da Igreja Universal. O bispo Clodomir Santos age como um 'âncora da CNN' ao manter o sangue frio e o controle de cada músculo da face ao ouvir algumas perguntas impagáveis de seus telespectadores (RIPARDO, 2006).

Sob o ponto de vista estético, o grotesco marca presença nos programas iurdianos de TV, mas realmente não dá para rir de tudo. O conteúdo ofensivo e a intolerância religiosa da IURD com as religiões de matriz africana ficam claros, na declaração da professora de São Paulo, que parece ter furado a triagem telefônica da produção do programa para colocar suas críticas.

Quanto aos “planos de poder” citados pelo jornalista parecem incluir o “relevante” “contingente” de fiéis afrodescedentes, como se reportou o bispo Clodomir ao se referir aos negros, em resposta à professora de São Paulo que, segundo ele, não são discriminados pela IURD. Uma declaração irônica do bispo Clodomir, em se tratando de que a IURD não discrimina os negros, um público alvo em potencial de fiéis ou eleitores que, segundo dados do Censo 2000, correspondem a 49% da população brasileira, já que discrimina sim, a sua cultura fruto de um passado civilizatório africano.

Em sua passagem pela Igreja Universal em Salvador, na Bahia, o bispo Clodomir protagonizou mais um episódio claro de intolerância religiosa. Segundo uma matéria publicada no jornal A Tarde, o bispo proibiu seus fiéis de consumirem o acarajé.

Na época, o bispo apresentava o programa Ponto de Luz, exibido diariamente às 13 horas na TV Itapoan, filiada da Rede Record na Bahia. Durante uma entrevista, uma convidada do programa, Rosália Cardoso, que se apresentou como vítima de encostos, o bispo disse que “depois de ingerir (a comida) a pessoa passa a desenvolver uma série de problemas”, referindo-se à culinária afro-brasileira.

E complementou: “Na Bahia isso é mais comum. Lá em São Paulo também. Normalmente os problemas da vida sentimental são causados pela ação dos encostos” (A TARDE ON LINE, 2003)

O acarajé, o abará, o caruru, todos preparados com azeite de dendê, são exemplos das comidas que compõem as oferendas sagradas aos orixás, e que integram o cardápio da tradicional culinária baiana. O acarajé, por exemplo, é oferecido a Yansã, orixá feminino divinizado nos ventos, raios e tempestades. O caruru é a comida de Xangô, o orixá da justiça.

É na preparação dessas iguarias, nas cozinhas dos terreiros de candomblé, que surgem uma das figuras mais emblemáticas dos cartões postais, a figura das baianas do acarajé. Vestidas de branco com seus colares de contas coloridas, essas vendedoras de quitutes, espalhadas em cada esquina da cidade, muitas vezes retiram deste trabalho sua principal fonte de renda.

Esses episódios nos remetem a uma pergunta incômoda: por que diante do discurso ofensivo às religiões afro-brasileiras, praticado pela IURD através dos meios de comunicação, ao mesmo tempo em que se apropria do universo sagrado dessas religiões, os seus templos estão lotados de afro descendentes, que se declaram convertidos à verdadeira fé?

Aqui entra em jogo a legitimidade social oferecida pelas igrejas evangélicas aos afro-descendentes e aos seguidores das religiões de matriz africana através da visibilidade dos meios de comunicação, promessas de emprego, reestruturação familiar, ou ainda, a oportunidade de participar do processo de modernização das grandes cidades, freqüentando os cultos em mega templos, equipados com tecnologias avançadas, localizados muitas vezes em áreas nobres.

Por pertencer a um ramo pentecostal e ser considerada como uma igreja evangélica, a IURD legitimou seus seguidores como pessoas de bem, herança do protestantismo tradicional. Essa legitimidade social levou, por exemplo, empresas a recrutarem trabalhadores evangélicos preferencialmente[2].

Com o seu discurso radical de ser uma força capaz de combater o mal na sociedade, através da “guerra espiritual” entre os eleitos dos filhos de Deus contra as religiões de matriz africana, como representantes do diabo na terra, reforçou o processo de estigmatização dos seguidores das religiões afro-brasileiras, de feiticeiros e pessoas voltadas para a prática do mal.

Por outro lado, a IURD com o objetivo de se aproximar da população negra investe todo o seu marketing religioso. Produtos religiosos são divulgados nos templos e na televisão, como sabonetes de arruda, vales construídos de sal grosso, rituais de descarrego, rosas brancas, um arsenal de bens simbólicos para conquistar o seu público-alvo.

Apropriando-se das práticas rituais e do universo sagrado das religiões afro-brasileiras na elaboração e comercialização de seus produtos espirituais, a IURD aciona a força de um imaginário cultural amalgamado em 400 anos de presença negra no Brasil.

Aqui a televisão cumpre muitos papéis nesse processo. Primeiro, o papel de catalisar, por meio do discurso, o imaginário cultural brasileiro e reelaborá-lo em diversos elementos que compõem a cultura midiática, como em vinhetas computadorizadas, entrevistas com testemunhos de fé, pastores-apresentadores, trilha sonora de filmes hollywodianos e a teledramaturgia, tudo a serviço do discurso ideológico da IURD.

E por último, os programas televisivos da IURD cumprem o papel de oferecer legitimidade social, muitas vezes, negada a uma população que vive à margem do processo de desenvolvimento global. Essa legitimidade social é fruto da visibilidade e do vínculo social proporcionados pelos meios de comunicação, principalmente pela televisão, dentro dos parâmetros da cultura de massa.

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NOTAS:
1- Segundo a antropóloga Juana Elbein Santos (1998, p.29), “todos os grupos étnicos provenientes do sul e centro do antigo reino do Daomé e do sudoeste da Nigéria, uma vasta região conhecida como Yorubá land, são conhecidos no Brasil com o nome Nagô. Da mesma forma que a palavra Yorubá na Nigéria, ou Lucumi em Cuba, o termo Nagô no Brasil acabou se aplicando coletivamente a todos estes grupos vinculados por uma língua comum, preservando as suas variantes dialetais”.

2- Esta preferência por trabalhadores evangélicos foi destaque na reportagem especial publicada no Jornal A Tribuna (ES) em 02/07/2005. A matéria obteve destaque na manchete do jornal: Cem empresários contratam empregados em igrejas. A reportagem, que ocupou as páginas 2 e 3, destaca que o objetivo dos empresários é “encontrar funcionário de boa índole, éticos, educados e de confiança”.


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REFERÊNCIAS:
KLEIN, Alberto C. A. Imagens de culto e imagens de mídia : interferências midiáticas no cenário religioso. 2004. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) ─ Programa de Comunicação e Semiótica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004.

MÃES-de-santo fazem manifestação em frente ao TJ. Folha Online , 04/05/2005

MARTIN-BARBERO, Jésus. Dos meios às mediações : comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2003.

RIPARDO, Sérgio. Crítica: “Fala que eu te Escuto” anima “corujão” da TV. Folha Online , São Paulo, 4 maio 2006. Disponível em: < www.1folha.uol.com.br/folha/ilustrada/utl90u60166.shtml >. Acesso em: 30 jan. 2007.

______. Telespectadora entra no ar e dá sermão em bispo da Record. Folha Online , São Paulo, 28 jan. 2007. Disponível em: < www.1folha.uol.com.br/folha/ilustrada/utl90u67951.shtml >. Acesso em: 30 jan. 2007.

SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagô e a morte . Petrópolis: Vozes, 1998.

SODRÉ, Muniz. O Monopólio da Fala . Função e linguagem da televisão no Brasil. Petróólis: Vozes,1989.

SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco . Rio de Janeiro: MAUAD, 2002.

UNESCO. Declaração de Princípios sobre a Tolerância . Paris, 1995.

UNIVERSAL agora condena acarajé. A Tarde Online , Salvador, 18 jan. 2003. Disponível em: < www.atarde.com.br >. Acesso em: 25 jan. 2006.

UNIVERSAL condenada por Intolerância. A Tarde , 20/03/2004 . 
 
* Carla Osório, mestra em Comunicação - mídia e cultura, pela Universidade Paulista (UNIP)